Pesquisar este blog

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

DEPRESSÃO NA EMPRESA

"Não há linhas divisórias entre o ser humano e o profissional".
Paciente depressivo tende a isolar-se afetando a comunicação interna e a qualidade do trabalho em equipe
A sua empresa é daquelas que, face à pressão por resultados imediatos, pouco tem focalizado a atenção ao fato de que as pessoas se sentem ansiosas, inseguras, desgastadas e perplexas em muitos momentos de suas vidas? Ou faz parte do rol de empresas que entende que, por serem constituídas de pessoas, podem se tornar (corporativamente) deprimidas, sofrerem de pânico, fobias e outros transtornos psicológicos?
Pois saiba que, desde a década de 80, quando as pessoas começaram a tomar consciência de que as suas escalas de prioridades apresentavam distorções, a auto-estima, auto-confiança, o culto ao corpo, felicidade e plenitude assumiram posições de maior importância, inclusive nas empresas, as quais, tornando-se conscientes que não há linhas divisórias entre o ser humano e o profissional, estão abrindo espaço para o “humano” dos seus colaboradores, afinal, qualidade de vida e felicidade são tão importantes quanto tecnologia e métodos de auditoria, quando se pensa em resultados e produtividade.
Um dos disparadores desta conscientização foi o reconhecimento de que a ansiedade e o estresse não são patrimônios exclusivos de executivos atarefados e de que a competitividade acabou substituindo a colaboração, o que é um paradoxo se levarmos em conta que vivemos na época do trabalho em equipe; isso e muitas outras variáveis aumentam o grau de ansiedade (temor indefinido experimentado como expectativa do pior) dos profissionais nas empresas como também as frustrações.
Para as empresas, que tanto sonham com profissionais comprometidos e engajados com seus resultados, ter um ambiente hostil é o mesmo que “dar um tiro no pé”, pois a ansiedade gerada é apenas o ponto de partida a um atalho que conduz ao tédio. A ansiedade e/ou os ataques de pânico, conduzem a um certo cansaço psicológico que plana sobre um sentimento de vazio e neutralidade perante tudo quanto rodeia o indivíduo.
O quadro pode agravar-se para a depressão, o mal do século e, em breve, a segunda doença em número de ocorrências em todo o mundo. É uma doença "do organismo como um todo", que compromete o físico, o humor e, em conseqüência, o pensamento. Como altera a maneira como a pessoa vê o mundo e sente a realidade, entende as coisas, manifesta emoções, sente a disposição e o prazer com a vida, pode-se dizer que altera, da mesma forma, a empresa onde trabalha. Ela traz muitas outras manifestações comportamentais que podem prejudicar o esforço pelos resultados empresariais, tais como “fracassomania”, inveja, oposição neurótica, estresse, paranóia, hostilidade, intolerância às críticas, necessidade de poder, inimizades, etc. Há, ainda, os “fantasmas” do corpo que tanto influenciam a auto-estima e a vaidade humana.
Não se pretende tomar por depressão qualquer sintoma conseqüente de dificuldades e frustrações do dia-a-dia, aos aborrecimentos a que todos estamos sujeitos ou as reações às queixas dos chefes sobre as performances dos funcionários. É uma doença afetiva (ou do humor), e não é, simplesmente, estar com "baixo astral" passageiro. Também não é sinal de fraqueza ou de falta de pensamentos positivos, mas as conseqüências podem ser muito negativas para as empresas, como alguns exemplos abaixo:
A auto-imagem e a auto-estima destas pessoas costumam estar francamente deterioradas a ponto de não se verem capazes de realizar suas tarefas ou novos desafios.
O paciente depressivo tende a isolar-se afetando a comunicação interna e a qualidade do trabalho em equipe.
A depressão pode evoluir para a síndrome de pânico ou outras fobias paralisando o funcionário nas situações de maior pressão.
O funcionário poderá apresentar transtorno somatomorfo, isto é, uma resposta emocional a uma vivência traumática que se caracteriza por um salto do psíquico para o orgânico, com predominância de queixas relacionadas aos órgãos e sistemas, como por exemplo, queixas cardiovasculares, digestivas, respiratórias, genito-urinárias, etc.; ou seja, manifestará no corpo, em forma de doenças, a ansiedade e/ou a depressão (ou outros transtornos "psis), podendo ser frequentemente afastado de suas atividades.
A ansiedade é um quadro que poderá evoluir para o consumo excessivo de álcool e/ou drogas.
Muitas vezes somam-se os sintomas de persecutoriedade, ou seja, de ser perseguido e isso pode alterar negativamente o clima entre os funcionários e gerar sérios conflitos individuais ou grupais.
Enfim, não apenas importante, é imprescindível que a empresa cuide da saúde psicológica de suas equipes de trabalho. Sentimentos como raiva, tristeza ou frustração, quando ignorados, podem drenar a vitalidade dos profissionais e minar a competitividade da empresa, logo, administrá-los é crítico para as empresas. Segundo Peter Frost, psicólogo sul-africano radicado nos EUA, “o sofrimento é um subproduto inevitável da rotina dos negócios.
Administrar mudanças, liderar projetos, criar produtos ou buscar resultados sempre levará os profissionais a algum nível de sofrimento. O problema existe quando as organizações não dão importância a essa questão e não criam formas de filtrar o sofrimento”. Portanto, em empresas problemáticas, eles se transformam num veneno que mina a auto-estima e afeta a confiança dos funcionários - neles próprios e na empresa, tendo como conseqüências, a perda de produtividade à debandada de talentos.
Paulo César T. Ribeiro - psicoterapeuta, consultor e palestrante
Desânimo com bula

A depressão é cada vez mais comum,mas ainda causa discriminação notrabalho e demissões


"O preconceito maior foi o meu próprio. Eu simplesmente não admitia ter passado para o outro lado."CECÍLIA TOLEDOEnfermeira e professora no Instituto de Psiquiatria do HC
Um profissional desmotivado, sem interesse por projeto algum, lento, dispersivo, mal-humorado com os colegas talvez não seja um mau profissional. Ele pode estar doente, com depressão. Veja esta breve lista de sintomas: fadiga aumentada, dificuldade de concentração, baixa auto-estima e autoconfiança, idéias de culpa, sensação de inutilidade, lentidão motora e de raciocínio. Agora imagine trabalhar com uma pessoa assim, ser subordinado ou chefe dela. "A pessoa deprimida fica estigmatizada como alguém que faz corpo mole, é baixo-astral e sem pique. Muitas vezes acaba por ser demitida ou é preterida nas promoções e isolada para não contaminar a equipe", afirma a psicóloga Débora Glina, professora de pós-graduação e consultora especializada em saúde do trabalhador.
A depressão é um problema comum. Segundo a Organização Mundial de Saúde, uma em cada cinco pessoas é, foi ou será afetada pela doença. Ela atinge especialmente quem está na faixa etária mais produtiva, dos 30 aos 40 anos. Atinge o doutor e a faxineira. A depressão é, em grande parte das vezes, temporária, e sempre tratável. Não há estudo científico nem caso clínico que digam o contrário. Apesar disso, a depressão ainda é envolta em uma aura de ignorância, segredos e medos. E em nenhum lugar isso é mais verdadeiro que no ambiente de trabalho.
Três vezes mais falta – Para um paciente psiquiátrico, encontrar e manter o emprego é um desafio. Numa pesquisa recente feita pela Fundação de Saúde Mental da Inglaterra, 47% das pessoas com distúrbios mentais disseram ter passado por discriminação no trabalho, e 55% esconderam o caso dos colegas. Num célebre estudo realizado em 1998, 200 profissionais de recursos humanos avaliaram o currículo de dois pretendentes a um alto cargo. Ambos os candidatos tinham experiência e formação equivalentes, mas um deles sofria de diabetes e o outro se recuperava de um período de depressão. O candidato com depressão foi considerado "significativamente menos empregável" que o com diabetes.
A paulista Renata Barros Lima formou-se em marketing, fez pós-graduação e com 27 anos, após três promoções em quatro anos, já ocupava um posto de chefia numa rede de lojas. Três meses depois de chegar ao topo, não se reconhecia mais profissionalmente. "Eu detectava um problema, irritava-me com ele, até chorava, mas era incapaz de reagir para corrigi-lo. Achava que não havia o que fazer com as coisas ruins, pois a tendência natural delas era piorar", conta. Renata só recebeu o diagnóstico de depressão quando já estava demitida. "Fiquei um mês sem sair de casa", lembra. Não se passaram três meses, porém, e ela já estava comandando uma nova equipe em outra empresa. "Eles sabiam da depressão, mas apostaram em meu currículo anterior", diz a moça.

Oscar Cabral
"Como uma pessoa com mestrado, como eu, não conseguia fazer um curso? A sensação de fracasso foi demais."FERNANDO TARTIN COSTAAssessor de informática da diretoria do IBGE
A companhia que demitiu Renata agiu de acordo com o padrão das empresas brasileiras quando o assunto é doença mental. A que a admitiu ainda sob tratamento é uma exceção, mas representa uma tendência. Nos Estados Unidos, 70% das empresas, segundo dados de uma pesquisa, reconhecem a importância de criar projetos de saúde corporativa que incluam distúrbios psíquicos. O governo americano estima que o país gaste 70 bilhões de dólares por ano com a perda de produtividade e despesas médicas provocadas pela depressão. Uma pessoa que sofre desse mal falta ao trabalho três vezes mais que um colega sem a doença. "No Brasil, a preocupação ainda não se traduz em investimento para mudar o problema", diz o médico João Figueiró, presidente do comitê de saúde da Câmara Americana de Comércio.
Tanque de roupas – "Quando a empresa oferece um acesso fácil com garantia de anonimato, o empregado busca apoio psiquiátrico mais rápido", afirma o médico do trabalho Ésio Carneiro. O anonimato é importante porque o preconceito existe também para o próprio paciente. "Eu simplesmente não admitia que pudesse ter passado para o outro lado", diz a enfermeira Cecília Toledo, que trabalha com pacientes com distúrbios mentais e dá aulas sobre o assunto no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo. Mesmo com todo o seu conhecimento, Cecília passou três anos dormindo e se alimentando mal, com preguiça e auto-estima zerada, até ter coragem de consultar um psiquiatra, que identificou nela depressão e síndrome do pânico. Até hoje, dez anos depois, e ainda usando medicamentos e fazendo terapia, ela jamais falou de seu problema para os companheiros de trabalho.
O assessor de informática da diretoria do IBGE, Fernando Robson Tartin Costa, sempre foi um viciado em trabalho, um perfeccionista. Em 1997, teve uma crise de depressão, mas só se deu conta dela quando, inscrito num curso, desistiu de acompanhá-lo. "A sensação de fracasso foi demais. Como uma pessoa com mestrado, como eu, não conseguia fazer um curso?", lembra. "Minha vida ficou uma droga quando me vi como um profissional que eu próprio não admirava." É por isso que a primeira reação de uma pessoa com problemas psíquicos é negar a doença. "Ela acha que tem uma fraqueza moral que deve ser enfrentada com força de vontade", afirma o psiquiatra Renério Fraguas Junior. "Não consegue", completa. Mas, para aceitar essa conclusão numa cultura em que reina o preconceito, em geral só passando pela doença. Meirylucy Porto e Celimar Reck trabalham juntas no departamento médico da sede dos Correios no Rio de Janeiro. Em momentos diferentes, tiveram depressão. Ao falar de preconceito, lembram o que elas próprias tinham antes de se tornar pacientes. "Várias vezes, quando uma funcionária vinha ao departamento pegar licença por causa de depressão, comentávamos entre nós: 'Um tanque de roupas para lavar resolveria o problema dela rapidinho'." Mudaram de opinião.

Recursos Desumanos
Uma pesquisa inglesa confirmou o preconceito contra pacientes com problemas mentais nas empresas
47% dos pacientes contou ter passado por discriminação no trabalho
55% esconderam a doença dos colegas
Fonte: Fundação de Saúde Mental da Inglaterra

Nenhum comentário: